boa noite, sunny

as mãos do tempo retorceram nossas roupas sujas
ali nossa inocência caiu gota a gota e nos consagramos atores
ensaiamos o silêncio de uma partitura que nunca será tocada
eu tô com medo, você disse
fica calmo!, eu também tava

a fobia do irreversível é maior que a do escuro
e a das aranhas, e a da altura
maior ainda é a dúvida do futuro:
somos remediáveis? quantos anos de terapia?
sorriremos de novo como nas fotografias?

eu tentei resetar
me acostumar com outro eu, outro nome, outra cidade
maldita a realidade
tão cruel o despertador a tocar
o escuro brinca de esconde-esconde
na minha cabeça, no meu espelho
principalmente na claridade
onde quer que eu vá

quero passar na sua casa
(não-me-esqueças)
ouvir você falar o nome de cada flor na estante
que não haja entrelinhas do passado nos seus olhos
sem segredos ou pormenores
nem mesmo o terror de encarar os erros de antes

esperarei por você na versão boa do final
seremos nós e os amigos num único abraço
durma só mais esta noite
amanhã a caminhada é longe
encare o medo, vença o mal, supere a si mesmo
aprume o passo